A liberdade de expressão absoluta como fator de disseminação de ódio e desinformação – Por João Ives Doti
O nazifascismo na Itália e na Alemanha representa um dos exemplos mais notórios de intolerância na história moderna, e sua ascensão ao poder ilustra como ideologias intolerantes podem se enraizar em sociedades e levar a consequências devastadoras.
Na Alemanha, o Partido Nazista, liderado por Adolf Hitler, promoveu uma ideologia que não apenas glorificava a raça ariana, mas também demonizava judeus, ciganos, homossexuais e comunistas, além de outros grupos considerados “indesejáveis”. Essa intolerância foi alimentada por uma propaganda sistemática que desumanizava essas populações, retratando-as como responsáveis pelos problemas sociais e econômicos do país. A retórica do ódio se transformou em políticas de exclusão, culminando em atrocidades como o Holocausto, onde milhões de judeus e outras minorias foram sistematicamente exterminados em campos de concentração. Essa tragédia é um exemplo claro de como a intolerância pode levar à violação dos direitos humanos e à destruição de vidas.
Na Itália, sob o regime fascista de Benito Mussolini, a intolerância também se manifestou de maneira semelhante. Mussolini promoveu uma visão nacionalista que excluía aqueles que não se enquadravam no ideal fascista. O regime perseguiu comunistas, socialistas, judeus e outros grupos considerados subversivos. Em 1938, as Leis Raciais foram implementadas, excluindo os judeus da vida pública e institucionalizando a discriminação racial. A propaganda fascista glorificava a unidade nacional às custas da diversidade, promovendo uma visão monocromática da sociedade.
Ambos os regimes utilizaram a retórica da “pureza” e da “unidade” para justificar suas ações intolerantes. Aqui entra o paradoxo da intolerância proposto por Karl Popper: ele argumenta que uma sociedade tolerante deve ser intolerante com a intolerância. Ou seja, para preservar uma sociedade livre e democrática, é necessário combater ideologias que promovam ódio e exclusão. Esse paradoxo ressalta que a liberdade de expressão não deve incluir discursos que incentivem a violência ou a discriminação.
Atualmente, vivemos em um mundo onde o discurso de ódio e a desinformação proliferam nas redes sociais. Essas plataformas têm o potencial tanto de unir quanto de dividir as sociedades. A desinformação pode alimentar preconceitos e criar bolhas onde as ideologias extremistas prosperam. Umberto Eco destacou que as redes sociais podem ser um terreno fértil para o crescimento do fascismo contemporâneo, pois permitem que ideias perigosas se espalhem rapidamente sem controle ou verificação adequada.
Diante desse cenário, surge a necessidade urgente de regulamentar as redes sociais para garantir que não sejam utilizadas como ferramentas de disseminação do ódio ou da intolerância. A regulamentação deve buscar um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a proteção contra discursos prejudiciais. Isso implica em estabelecer diretrizes claras sobre o que constitui discurso de ódio e como lidar com informações falsas.
Esses exemplos históricos nos ensinam sobre os perigos da intolerância e da complacência diante de discursos que promovem ódio e divisão. É fundamental que as sociedades democráticas permaneçam vigilantes contra qualquer forma de intolerância que possa surgir, reconhecendo que a verdadeira liberdade inclui a proteção dos direitos de todos os indivíduos, independentemente de sua origem ou crença. A educação sobre esses eventos históricos é crucial para garantir que não sejam esquecidos e para promover um futuro mais tolerante e inclusivo.
Prof. João Ives Doti
Sociólogo e Cientista Político