Ato antirracista reúne centenas de pessoas em apoio ao motoboy vítima de agressão e detido pela BM em Porto Alegre
Um ato antirracista e contra a violência reuniu centenas de pessoas na tarde deste domingo, 18, na esquina da avenida Osvaldo Aranha com a rua José Bonifácio. Organizado pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais do RS, Sindimoto, filiado à CTB, o ato foi realizado em função da enorme repercussão gerada pela detenção do entregador Everton da Silva, homem negro que sofreu uma tentativa de homicídio enquanto trabalhava neste sábado, 17. Vítima, o fazer a denúncia, ele fora algemado e detido pela Brigada Militar.
Segundo relato de diretores do Sindimoto, “realizamos o ato em razão da violência policial sofrida pelo colega Everton, um homem negro, vítima de uma tentativa de homicídio no sábado, dia 17 de fevereiro. Quando a brigada militar chegou ao local, rendeu e prendeu violentamente, de forma racista, o nosso irmão Everton. O ato ocorreu através da mobilização redes sociais e contou com a presença de autoridades representativas, vereadores e vereadoras, deputados e deputadas, centrais sindicais, movimentos sociais e organizações do povo negro.”
Diante do número significativo de pessoas na manifestação, os presentes seguiram em marcha da redenção até o local onde ocorrera a agressão. Lá fizeram um ato simbólico e pacífico contra o racismo estrutural e institucional.
O ato exigiu a urgente responsabilização pelos crimes praticados pelos policiais da Brigada Militar que realizaram a prisão ilegal e absurda de Everton, já que ele não era o agressor, e sim a vítima. “Exigimos uma retratação pública do prefeito Sebastião Melo e de seu secretário de segurança pública, assim como do governador do Estado Eduardo Leite e de seu secretário de segurança pública. A nossa categoria sofre violência policial todos os dias e precisamos superar essa realidade,” completou a manifestação do Sindimoto.
Ao longo da mobilização, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra o prefeito Sebastião Melo (MDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB), este que manifestou confiança nos homens e mulheres da BM em publicação nas redes sociais.
Diretor do Sindimoto e entregador por aplicativo, Jean Clezar frisou que a luta contra a violência é de todos os pobres e trabalhadores. “É muito difícil a gente ir a Brasília, protestar contra os aplicativos [de delivery], quando o nosso agressor também está aqui do lado de casa”, disse. “Nosso agressor talvez seja o Estado – não só as plataformas digitais, mas também o Estado, que precariza nosso trabalho. Que faz um negro ser morto”.
Entenda o caso:
O entregador Everton Goandete da Silva estava próximo à esquina da rua Miguel Tostes com a avenida Protásio Alves, onde se concentram trabalhadores que entregam refeições para bares e restaurantes da região, quando foi atacado por um homem com uma faca, que o feriu próximo ao pescoço. Chamada ao local, a BM deteve a vítima com truculência e conduziu cordialmente o agressor, como mostram inúmeras imagens que circulam pelas redes sociais desde o episódio.
O entregador foi liberado ainda na tarde de sábado. Segundo o advogado Ramiro Goulart, foi registrado um Boletim de Ocorrência por lesões corporais contra o agressor, que ainda pode ser modificado, já que a delegacia responsável pelo caso deveria ser a 3ª DPE, na avenida Cristóvão Colombo.
A BM intimou Everton a depor nesta segunda-feira (19) como vítima da agressão ocorrida no sábado. Os conselhos Nacional e Estadual dos Direitos Humanos, os deputados Fernanda Melchionna (PSOL), Daiana Santos (PCdoB), Matheus Gomes (PSOL) e Laura Sito (PT) acompanharão a sindicância. Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, anunciou na manhã deste domingo (18) que o governo federal vai acompanhar o caso.
CTB RS com informações do Sindimoto RS e Sul21