Na tempestade, Leite privatista pede socorro ao Estado

 Na tempestade, Leite privatista pede socorro ao Estado

Eduardo Leite (Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini)

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Artigo de Igor Corrêa Pereira* | Brasil 247

Falo em meio ao turbilhão de acontecimentos, como um sobrevivente da situação de guerra em que a população gaúcha padece com uma enchente histórica que atinge mais de 300 municípios do Rio Grande do Sul desde a semana passada. Os desabrigados pelas cheias tem pressa, vivenciamos belas demonstrações de solidariedade no enfrentamento à catástrofe. É difícil distanciar as emoções em busca de sínteses de análise. Mas preciso falar em meio a dor do campo de batalha. 

Energia elétrica e água encanada foram conquistas importantes da humanidade e sua falta traz um grande sofrimento. É uma perversa ironia que em meio a maior inundação de água que se tem registro, já sejam 860 mil imóveis sem desabastecidos desse bem essencial à vida. Em relação a energia elétrica, já são 421 mil usuários desatendidos no estado. Uma pergunta incômoda precisa ser feita: o governador Eduardo Leite acertou ao privatizar o controle sobre esses dois bens essenciais e que hoje faltam à população? 

O mesmo governante que alegremente entregou à iniciativa privada esses dois bens necessários para manter a vida e a atividade econômica, diante da tragédia que assola os gaúchos, exige do executivo e legislativo federais um aporte extraordinário de recursos públicos para reconstruir as perdas causadas pela calamidade climática. Fica revelada, em meio à tragédia, a sinistra cartilha neoliberal. Os lucros são privatizados e os prejuízos são do Estado! Na hora de privatizar a CEEE (energia elétrica) e a CORSAN (água), o Estado era visto como ineficiente e debilitado financeiramente. Agora, em meio ao colapso climático, é o mesmo Estado ineficiente e sem dinheiro que precisa aportar recursos? Algo de errado não está certo!

Ainda está na memória dos porto-alegrenses o apagão da CEEE Equatorial em fevereiro deste ano, quando uma tempestade assolou a região. A empresa que arrematou a CEEE é de propriedade do bilionário Jorge Paulo Lemann. Este homem, que segundo a revista Forbes é o segundo homem mais rico do país, com um patrimônio estimado em R$ 94 bilhões, porque não foi cobrado por Eduardo Leite a tomar providências pela calamidade natural? Ele é capacitado para assumir o controle da energia elétrica dos gaúchos no lugar do Estado, mas se algo dá errado quem socorre é o Estado? Esse espírito empreendedor é muito cômodo, não é mesmo? Quando o tempo é bom, os ganhos são privatizados. Quando há tempestades, os prejuízos são públicos. 

* Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.


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