Série de Feminicídios no Rio Grande do Sul durante o feriado da Páscoa de 2025 – Por João Ives Doti

Entre os dias 18 e 21 de abril de 2025, o Rio Grande do Sul foi palco de uma série de feminicídios que resultou na morte de dez mulheres em diferentes cidades do estado. Os casos, em sua maioria, envolveram companheiros ou ex-companheiros das vítimas e escancararam a insuficiência das políticas públicas de proteção à mulher, além de evidenciar a persistência da violência de gênero como um fenômeno estrutural.
O feminicídio é reconhecido como a expressão mais extrema da violência de gênero, frequentemente perpetrado por parceiros íntimos e agravado pela omissão institucional e pela ausência de políticas públicas eficazes. O episódio ocorrido no feriado de Páscoa de 2025, no Rio Grande do Sul, destaca a urgência de respostas integradas para o enfrentamento desse problema.
Perfil dos Casos
Durante o feriado prolongado, dez mulheres foram assassinadas em nove cidades gaúchas, incluindo Parobé, Feliz, São Gabriel, Viamão, Bento Gonçalves, Santa Cruz do Sul, Pelotas, Serafina Corrêa e Ronda Alta[2][4][7][9]. Seis feminicídios ocorreram apenas na Sexta-feira Santa, 18 de abril, e os demais se distribuíram até a segunda-feira, 21 de abril[1][6]. As vítimas tinham idades entre 14 e 54 anos, e, em quase todos os casos, o autor era companheiro ou ex-companheiro da vítima[9]. Em Parobé, a vítima estava grávida; em Feliz, o atual namorado da vítima também foi morto pelo ex-companheiro da mulher[7][9].
A maioria dos crimes ocorreu dentro das residências das vítimas, o que reforça o lar como um espaço de risco para mulheres em situação de violência doméstica[4][9]. Em 84,7% dos feminicídios registrados no estado em 2024, o autor era parceiro ou ex-parceiro, padrão que se repetiu durante o feriado[4].
Omissão Institucional e Falta de Políticas Públicas
Órgãos como o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do RS e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RS) denunciaram a omissão do poder público e a ausência de políticas públicas estruturadas para o enfrentamento da violência contra a mulher[1][2][5][8]. O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher destacou que os feminicídios não são eventos isolados, mas resultado de uma engrenagem de descaso sistemático e de falta de vontade política para enfrentar a misoginia[1][2]. Entre as principais deficiências apontadas estão a falta de casas de abrigo, centros de referência, delegacias especializadas em número suficiente, servidores treinados e orçamento robusto para políticas de enfrentamento[1][2][3][6].
A OAB/RS solicitou uma reunião extraordinária do Programa RS Seguro e cobrou respostas rápidas e coordenadas do poder público, reforçando o compromisso com a erradicação da violência de gênero[5][8].
Desafios e Medidas Emergenciais
Especialistas e autoridades ressaltam que o feminicídio é o ápice de uma série de violências, muitas vezes precedido por agressões físicas, psicológicas e ameaças[3][6]. Um dos principais desafios é alcançar mulheres em situação de risco antes que o feminicídio se concretize, já que a maioria das vítimas não havia solicitado medidas protetivas ou registrado ocorrências[3][6].
Como resposta emergencial, a Polícia Civil anunciou a antecipação do lançamento de uma plataforma digital para solicitação de medidas protetivas de urgência, buscando ampliar o acesso à proteção e facilitar o pedido de ajuda pelas vítimas[3][4]. Também foi ressaltada a necessidade de funcionamento ininterrupto das delegacias especializadas e do fortalecimento da rede de apoio e acolhimento[3][6].
Considerações Finais
A série de feminicídios no Rio Grande do Sul durante o feriado da Páscoa de 2025 evidencia a gravidade da violência de gênero e a insuficiência das respostas institucionais. O episódio reforça a necessidade de políticas públicas integradas, orçamento adequado, prevenção, educação para igualdade de gênero, canais acessíveis de denúncia e acolhimento, além de respostas rápidas e coordenadas do poder público para garantir a vida e os direitos das mulheres.
Referências
- Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do RS. “Páscoa 2025, seis feminicídios em um só dia.” Sul21, 20 abr. 2025.[1]
- “Feriadão de Páscoa teve 10 feminicídios em nove cidades no Rio Grande do Sul.” Sintrajufe/RS, 22 abr. 2025.[2]
- “Como o RS pode melhorar a proteção às mulheres vítimas de violência e evitar novos feminicídios.” GZH, 22 abr. 2025.[3]
- “Feminicídio no Rio Grande do Sul.” Jornal A Plateia, 22 abr. 2025.[4]
- “Violência contra a mulher: OAB/RS envia ofício ao Programa RS Seguro do Governo do Estado em razão dos altos índices de feminicídio no feriado de Páscoa.” OAB/RS, 23 abr. 2025.[5]
- “Rio Grande do Sul registra seis feminicídios nesta sexta-feira.” GZH, 18 abr. 2025.[6]
- “Sobe para dez o número de feminicídios no RS durante o feriadão.” Correio do Povo, 21 abr. 2025.[7]
- “Violência contra a mulher: OAB/RS envia ofício ao Programa RS Seguro do Governo do Estado em razão dos altos índices de feminicídio no feriado de Páscoa.” OAB/RS, 22 abr. 2025.[8]
- “Quem eram as dez mulheres assassinadas em quatro dias no RS.” Correio do Povo, 22 abr. 2025.[9]