Sinais trocados (ou “e se os lobos solitários virarem alcateia?”)
Por Alex Saratt

 Sinais trocados (ou “e se os lobos solitários virarem alcateia?”)Por Alex Saratt
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A instantaneidade do nosso tempo exige opiniões e reflexões imediatas, açodadas pela espetacularização cruenta e cruel da realidade. A fugacidade dos eventos quer impedir que sejam vistas suas conexões sociológicas e históricas, numa matreira manipulação ideológica.

Realizar um exame minimamente ponderado acerca dos recentes ataques criminosos e assassinos às escolas permite muitas abordagens. Logo concentro a exposição a um aspecto imbricado à própria Educação: o papel da pedagogia no enfrentamento a esse cenário contaminado pelo ódio, armamentismo, repressão, violência e morte.

Cada item supracitado tem concretude e materialidade, pode e deve ser objeto de intervenção por todas as partes, cabendo à Educação um papel central. A escola é um aparelho dominado e doutrinado pela classe que dirige o Estado, mas em seu interior uma inteligência e consciência coletiva não só faz diferente, como também resiste.

A resistência é ativa, reflexiva e produtiva. Os educadores e educandos têm no espaço e relação escolar um momento e oportunidade para contrapor-se à ideologia dominante do capitalismo, que mescla neoliberalismo e fascismo sem nenhuma vergonha.

A concepção histórico-crítica e a convicção de que um projeto educacional e pedagógico calcado numa perspectiva de diálogo, solidariedade, cultura de paz, tolerância, não-violência e combate às discriminações, preconceitos e exclusões – mesmo num órgão estatal, burguês e capitalista – demarca e confronta aquilo que o status quo torna senso comum.

Não há dúvidas que outras medidas têm validade e utilidade, mas o fenômeno atual tem que ser enfrentado também no campo onde temos preponderância, projeto e atuação. Excrescências como o Escola Sem Partido, a Escola Cívico-Militar, o Homeschooling, a Ideologia de Gênero, o Novo Ensino Médio, compõem a estrutura de um “sistema nacional de educação” avesso aos princípios democráticos, às conquistas da cidadania, as necessidades históricas do povo, ao desenvolvimento, bem-estar e soberania nacional.

Apesar da prédica parecer de fácil realização, na prática não é nada disso: a compreensão do papel militante do educador e sua efetiva incidência sobre a realidade é árdua, nos remete ao trabalho de base dos anos 1980. Precisa ser coletivo, tem que ter debate, toma tempo e energia, sofre restrições e perseguições, lida com limitações e desistências, mas se impõe por compromisso ético e político imprescindível.
As temáticas e conteúdos são vastos e variados, desde a denúncia do fascismo até o conhecimento do teor da Declaração Universal dos Direitos Humanos; das plataformas digitais e das fake news; do entendimento das opressões e das formas de combatê-las; do significado da paz e da violência numa sociedade de classes e do papel da solidariedade, empatia e respeito.

Não nos falta matéria-prima, competência e intenção. Ou formulamos e agimos ou seremos simplesmente atropelados pelos que depõem contra a escola pública. E a profundeza do processo histórico em curso nos mostra pelo retrovisor uma imagem terrificante, a qual nunca imaginamos que voltaria a acontecer.

É isso! Luta e vida são sinônimos mais atuais do que nunca. Temos uma sociedade e conjuntura onde percebe-se que os sinais trocados. O que será de nós se os lobos solitários virarem alcateia? Como cantou Beto Guedes “vamos precisar de todo mundo, para banir do mundo a opressão, para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor”.

Toda solidariedade às vítimas e famílias atacadas pela virulência fascista.

POR ALEX SARATT

Professor, vice-presidente do Cpers, Secretário de Comunicação da CTB RS


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