Ser professor em tempos de ódio: resistir é educar – por Saulo Rodrigo Bastos Velasco

Vivemos uma era marcada pelo avanço do discurso de ódio, da intolerância e da negação do pensamento crítico. Nessa conjuntura, ser professor ultrapassa a função de transmitir conteúdos: torna-se um ato de resistência e compromisso com a formação humana.
Enfrentamos o desafio de dialogar com estudantes que crescem expostos a um ambiente hostil à escuta e ao pensamento plural. A educação, historicamente marginalizada em nosso país, agora também é alvo de campanhas que tentam deslegitimar o papel do professor e transformar a escola em um espaço de silenciamento.
O discurso de ódio se infiltra nas redes sociais, nas famílias, nos espaços políticos e nas instituições. Ele tenta desqualificar professores como doutrinadores, rotulando a abordagem crítica como ameaça ideológica. Esquecem — ou fingem esquecer — que incentivar a pensar não é ensinar o que pensar, mas estimular a autonomia intelectual e o senso de justiça social.
Nosso compromisso vai além da aula tradicional: é um compromisso com a democracia, com a escuta e com o diálogo entre diferentes visões de mundo. Em tempos de negação da ciência, da história e da diversidade, reafirmar a importância do pensamento crítico é um ato político e pedagógico.
Além disso: todos se sentem autorizados a opinar sobre a educação escolar, como se o trabalho docente fosse simples ou intuitivo. Pais, políticos, influenciadores digitais e comentaristas sem formação na área sentem-se no direito de interferir na prática pedagógica, com base em impressões superficiais ou discursos reacionários. Essa banalização da docência contribui para o desrespeito ao professor, que é constantemente pressionado a se adaptar a opiniões externas em detrimento de sua formação, experiência e compromisso pedagógico. É preciso afirmar: educação é campo técnico, ético e científico, e requer preparo, estudo contínuo e valorização da categoria.
Não somos inimigos da sociedade. Somos agentes de formação e transformação. E não há sociedade democrática possível sem professores que ensinem a perguntar, a argumentar e a refletir. A escola precisa ser um espaço de construção coletiva, onde o conhecimento não seja usado para oprimir, mas para libertar.
Resistir ao ódio, portanto, é educar. É defender o direito de construir o conhecimento com liberdade e responsabilidade. É manter viva a esperança de que uma sociedade mais justa e plural só será possível quando valorizarmos verdadeiramente o papel de quem, todos os dias, planta ideias, promove o diálogo e estimula consciências.
Saulo Rodrigo Bastos Velasco
Professor da Rede Municipal de Educação de Caxias do Sul