Um país com autonomia e soberania passa pela reindustrialização
Por Assis Melo – Presidente da Fitmetal e do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região
A medida anunciada por Lula, com a redução de impostos no setor automotivo, já está produzindo efeitos imediatos na cadeia de produção automobilística. Além de ampliar o acesso a carros novos, a medida também deve aumentar a arrecadação do governo federal. Mas precisamos ir além. É necessário que este seja o ponto de partida para a reindustrialização do Brasil.
Isso, na verdade, é um debate que já vem sendo feito em nível das Centrais Sindicais, anteriormente ainda a própria eleição, dentro do debate da industrialização do país. Essa questão veio diretamente ligada ao setor automotivo, mas é preciso incluir outros segmentos da indústria de modo geral. A própria indústria hoje, passando pelo setor da saúde, pela indústria de transporte de pessoas e de mercadorias, são questões importantes. O desenvolvimento de novas tecnologias, de novos combustíveis, também devem fazer parte do debate da reindustrialização. Tem que passar pela sustentabilidade.
São questões fundamentais para recuperarmos não só a indústria, mas também o emprego de qualidade. Hoje, por exemplo, os trabalhadores de plataforma, da chamada uberização do trabalho, são trabalhadores que vivem exclusivamente da sua força de trabalho, mas não têm uma perspectiva de aposentadoria, de férias, de décimo terceiro, de uma jornada de trabalho menor.
Então, quando há um debate sobre a questão da redução da jornada de trabalho, devemos incluir esses trabalhadores, que já somam um contingente em torno de quase 50 milhões de pessoas. Quando se debate a reindustrialização do país, nós estamos discutindo, na verdade, que tipo de emprego nós queremos.
Quando o governo federal está imbuído nessas questões, o próprio empresariado, os trabalhadores e o parlamento tem que fazer parte disso, para que a gente possa, de fato, construir um pacto em defesa do desenvolvimento, em defesa da valorização do trabalho. É o fortalecimento da indústria, de uma indústria que seja de transformação. Este é um aspecto que precisamos levar em consideração. Uma indústria que agregue valor, para que esse trabalho possa ser distribuído também em melhores condições.
A ideia da reindustrialização do país, de que a indústria passe a ter um papel importante no PIB nacional, vai dar condições de construirmos, de fato, uma nação em condições de ter soberania e autonomia.
Na última quinta-feira, dia 25 de maio, quando estive em Brasília no Palácio do Planalto, eu acompanhei o anúncio das medidas e essa iniciativa do governo especificamente para o setor produtivo. Mas é preciso levar em conta todas as cadeias produtivas e industriais e daquilo que nós temos potencial hoje no país, que é de desenvolver a sustentabilidade, investir nos combustíveis alternativos, no carro elétrico e no ônibus elétrico. Dessa forma o Brasil pode se desenvolver com a indústria nacional, potencializando o mercado interno também, que é um mercado grande de consumo.
Precisamos também resolver a questão do juros e a questão da dívida das pessoas. Possibilitar o crédito e colocar as pessoas em condições de consumo. Nós, do ponto de vista dos trabalhadores, ao mesmo tempo que se junta a ideia da reindustrialização, colocamos a nossa pauta também, a pauta trabalhista. Ela tem que ser colocada nesse conjunto de questões para que a gente possa realmente ter melhores condições de vida, de trabalho e de remuneração. É preciso ficar atento a essas questões para que os trabalhadores não fiquem de fora de um processo de reindustrialização, de colocar sua opinião, de colocar suas reivindicações também.
Fortalecer a indústria, vai fortalecer também o comércio e os serviços. E também o segmento da agricultura. Temos o potencial das máquinas agrícolas, de desenvolver os equipamentos para pequenos produtores criando uma cadeia produtiva também muito grande. Então, além de produzir as máquinas de grande porte, com tecnologia muito avançada, nós precisamos construir um segmento também de máquinas, assim como tem o carro popular, nós podemos construir máquinas agrícolas populares também. Uma colheitadeira, um trator, um equipamento de fácil acesso para o pequeno produtor. Por que além de gerar o alimento diretamente para ele, vai gerar o alimento para a cidade, para o setor urbano, em melhores condições e melhores preços.
Quando falamos sobre reorganizar, reconstruir o país do ponto de vista do desenvolvimento e do fortalecimento da indústria, falamos dessa característica. A indústria consegue ter esse conceito de desenvolvimento cada vez maior e de gerar um emprego que não seja um emprego periférico, um emprego precarizado.
O debate é importante e necessário. Queremos contribuir com ele para também apresentar a nossa pauta e ter o nosso olhar. O olhar dos trabalhadores e das trabalhadoras sobre a reindustrialização do país.